segunda-feira, 26 de março de 2007

domingo, 25 de março de 2007

Amanhã de manhã....

Vou acordar assim.....

À Conversa com Pina Bausch, no Teatro Camões

Um boa oportunidade de formação.....

sexta-feira, 23 de março de 2007

AFINAL HAVIA OUTRO....

Pois é....bloguistas de fim-de-semana fazem destas coisas...as minhas desculpas ao Nuno Artur Silva e ao Nuno Artur Silva.

OS NOSSOS TEATROS

E assim....

Agora está assim.....

Cine-Teatro S. Pedro (Alcanena)

OS NOSSOS TEATROS

Cine-Teatro S. Pedro (Alcanena)
Era assim....

Edifício original
Arq. José de Lima Franco e arq. Raul Tojal

Cronologia
1947, 1 de Agosto - início das obras do cine-teatro, custeadas pela "Sociedade de Melhoramentos de Alcanena", sociedade por acções formada por 70 sócios, liderada por António Mota, industrial de curtumes; 1954 - conclusão das obras do teatro; 1954, 20 de Novembro - inauguração do cine-teatro pela Companhia do Teatro Nacional D. Maria (Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro), com a representação da peça "Prémio Nobel", de Fernando Santos e Leitão de Barros, com a actuação de Palmira Bastos; no dia seguinte representaram-se as peças "As árvores morrem de pé", de Alejandro Casona, e "A Ceia dos Cardeais" de Júlio Dantas; 1969, 1 de Outubro - o cine-teatro passou a ser explorado pela firma "Filmes Lusomundo, de Lisboa; 1970, década de - início da decadência do teatro, motivada por custos de exploração elevados; 1986 - cessa actividade, sendo encerrado; 1995 - António Mota, o maior accionista, doou à autarquia as suas acções na sociedade; 1996 - queda do tecto da sala; elaboração de um projecto de reconstrução pela firma "Arquibúzios - Arquitectura e Paisagismo";

Tipologia
Arquitectura civil cultural, modernista. Cine-teatro de planta composta, de desenvolvimento longitudinal, com cobertura em telhado. Articulação ritmada da superfície das fachadas, sublinhando o jogo da luz e sombra. Funcionalismo do espaço interno, transparecendo no tratamento das fachadas. Dentro dos edifícios construídos para cine-teatro, insere-se no grupo de auditórios de planta rectangular, de cena contraposta, com auditório comportando plateia e um balcão, além dos camarotes laterais para as autoridades (4). Tem fosso de orquestra e proscénio. Dispõe de palco com pendente, subpalco e camarins localizados atrás do palco, em corpo especialmente concebido para o efeito. Cabina de projecção em espaço independente, localizada no piso acima do balcão. Trata-se assim de um auditório tipo A1 (salas de espectáculos) de 2ª categoria (entre 500 a 1000 lugares), com palco de tipo B2 (espaços cénicos integrados), com espaços de apoio dos tipos C1 (locais de projecção e comando), C2 (locais de apoio) e C3 (locais técnicos e de armazenagem)


Características Particulares
O edifício do cine-teatro, de volumetria e linhas modernistas, contrasta com o fronteiro edifício dos Paços do Concelho, de gosto ecléctico, de cunho nacionalista, construído pelo mesmo arquitecto, José de Lima Franco, e inaugurado em 1946. Apesar do estado de degradação do edifício, são ainda visíveis certos pormenores que revelam a existência de um cuidado projecto de decoração de interiores, a cargo de Raul Tojal, nomeadamente no acabamento do pavimento do átrio e dos paramentos do foyers e do auditório, no desenho dos bares e das cadeiras e nos revestimentos das varandas do balcão.*

Descrição
Planta composta por rectângulos adossados, dispostos longitudinalmente. Cobertura em telhado, parcialmente destruída. Fachada principal, virada a NO., de quatro panos. Destacam-se os três panos do lado direito, subindo em três pisos; o piso superior, rematado por cornija, é recuado e antecedido por varanda com guarda em ferro, resguardada na secção central por pala em betão apoiada em quatro pilares; os dois pisos inferiores, ligeiramente avançados e enquadrados por molduras em cantaria, mostram uma organização simétrica: o pano central, de maiores dimensões, correspondente ao vestíbulo e foyer do balcão, os dois panos laterais, à caixa da escada, do lado direito, à zona do foyer da plateia e ao espaço do bar do balcão, do lado esquerdo; rasgamento axial das portas de acesso ao átrio, ao fundo de um nártex, apoiado em dois pilares centrais e antecedido por pala saliente e escada; rasgamento lateral dos vãos das bilheteiras nos paramentos laterais do nártex, arredondados e sublinhados por juntas fendidas; no registo superior abrem-se três amplas janelas com bandeiras; os dois panos laterais são simetricamente vazados por dupla fenestração longitudinal, sublinhada por faixas em cantaria. O pano do lado esquerdo da fachada, de dois pisos, corresponde às zonas de serviços e é rasgado por pequenas janelas. Na fachada lateral, virada a SO., demarcam-se três corpos de volumetrias desiguais: o primeiro correspondente à caixa da escada, enquadrado por faixas em cantaria e rematado por varanda, rasgado pela porta de acesso e resguardada por pala; o segundo corpo, correspondendo ao auditório, mostra um paramento liso rematado por cornija, assinalado pelo rasgamento longitudinal de iluminação das zonas de acesso à plateia e ao balcão, e pelas três portas de acesso à plateia, com frestas sobrepostas; e o terceiro corpo, mais elevado, e também rematado por cornija, vazado por porta de acesso ao palco. INTERIOR - Os espaços de estar para o público, bem como os espaços de apoio concentram-se na zona que antecede o auditório. Um átrio de entrada ( 7 m x 1, 50 m), de pavimento em marmorite com moldura central oval, onde se inscreve em cores contrastantes a designação e o nome da empresa proprietária, assegura o acesso ao foyer térreo (7 m x 3, 50 m) e aos corredores que circudam a plateia. É igualmente neste piso que se localizam a bilheteira, com atendimento para o exterior (capacidade para 2 funcionários), o bengaleiro (capacidade para atender 3 pessoas) e um bar. As escadas de acesso aos pisos superiores, localizam-se no canto direito. Sobre o átrio, no 1º piso, abre-se o amplo foyer do balcão (9 m x 6 m), dividido por sala e espaço de bar: de realçar, em ambos os foyers, o revestimento cor de antracite dos lambris, sublinhados por filetes paralelos dourados, bem como os balcões de bar, com revestimento em folha metálica, respectivamente, prateada e dourada. A área dos foyers no segundo piso é aproveitada para terraço e instalação da cabina de projecção. Espaço do AUDITÓRIO - espaço independente, ligado ao palco pela boca de cena, de planta rectangular e contando com uma lotação de 588 lugares distribuídos por plateia (460), balcão de 1ª ordem (54) e 4 camarotes laterais de 1ª ordem (16) (*). Plateia com pendente, de coxias longitudinais central e laterais, e transversais de boca e de fundo, desprovida de cadeiras (**); pavimento em madeira, paredes estucadas e pintadas de cor branca acima de lambril sublinhado por faixa pintada de cor antracite sobre a qual se increvem filetes dourados dispostos paralelamente; tecto com trabalho de estuque crespado (visível nas zonas que não ruiram). O balcão, por cima da plateia, apresenta guarda em alvenaria, rebocada e pintada de cor branca, coxias longitudinais central e laterais e transversais de boca. Espaços cénicos - o PALCO com largura de 14 m e profundidade de 7, 50 m, tem pendente, paredes brancas, soalho de madeira disposto paralelamente à boca de cena e acesso de carga directo à rua. A boca de cena, de forma rectangular (8 m x 7, 50 m) e em estuque, é desenhada por moldura, sublinhada por friso de conteados, apresentando ainda vestígios de dourado. Dois paramentos laterais arredondados enquadram a boca de cena e o proscénio à frente do qual se abre o fosso de orquestra (13 m de largura). Espaços técnicos - a caixa de palco tem teia de piso e estrutura em madeira (a cerca de 14 m do palco) e varandas lateraisl e outra de fundo, em betão. Conta com subpalco, igualmente de estrutura em madeira. A cabina de projecção possui um espaço independente e está localizada no 2º piso, por cima do balcão de 1ª ordem. Espaços de apoio à cena - 5 camarins, localizados atrás do palco, em corpo de planta rectangular, dividido em compartimentos de áreas idênticas. Acesso directo à rua e, pelo interior, ao palco, este último feito por duas portas, uma em cada topo.


* Raul Tojal é sobretudo conhecido por algumas obras marcantes em Lisboa, nomeadamente os projectos de arquitectura para o Palladium, de 1932, para o Salão de Chá Imperium, de 1936 e para o salão de chá Suiça, todos em Lisboa. Nos anos 60, em colaboração com Manuel Moreira e Carlos Roxo (grupo que ficou conhecido pela designação de "Trio Maravilhas"), decorou numerosos espaços comerciais, nomeadamente a Loja das Meias em Lisboa, em 1961 (Rui Afonso SANTOS, 1995).

Flash

Programador, Programador ... Quem és tu?! Ninguém!

Memórias do Cárcere (I)

milhão..milhão e meio....

Então, a rapaziada... como é que faz? bunhhh.....

Casa das Artes de Famalicão

Casa das Artes de Famalicão

Malcriada, mas boa comida
(ia fazer um trocadilho, mas alguém era capaz de não gostar....)





Nuno Artur Silva
Fundador e CEO da Produções Fictícias, empresa de escrita de ideias, argumentos, guiões e agência de autores e marcas. Nasceu em Lisboa, em 1962.
Ficcionista.
Foi Director Criativo de HermanZap, Herman Enciclopédia, Contra-Informação, Não És Homem Não És Nada, O Programa da Maria, Paraíso Filmes, Manobras de Diversão, O Inimigo Público, Urgências, Voz, É A Cultura Estúpido, História Devida, entre outros.

Principais livros publicados:
- As Passagens do Tempo, Ed. Cotovia, 2000.
- As Aventuras de Filipe Seems (banda desenhada com desenhos de António Jorge Gonçalves), 3 volumes, Ed. Asa, 1993/2003.
- Co-Autor do livro/disco e peça de teatro infantil Bom Dia Benjamim, 1998.
- Autor da adaptação para teatro de O Que Diz Molero, de Dinis Machado, 1994.

(os erros, omissões e deturpações são exclusivamente da responsabilidade do bode expiatório. As gralhas, do corrector ortigráfico. Da foto, o que se pode arranjar)



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PROGRAMA DOS PECADORES:
28 de Março
9h30 às 17h30
Laboratório de Ideias (Artes Plásticas)
Dra. Filipa Oliveira
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27 Março
9h30 às 16h00 - No sítio do costume. (Não confundir com Pingo Doce nem Polícia de Costumes)
"O quadro de pessoal num teatro: perfis e competências"
Dr. Rui Catarino

16h30 (Na Biblioteca Municipal de Palmela:Largo São João, 6 - Tel:212 339 910)
Conferência "Web 2.0 ou no digital somos todos produtores"
Dr. Nuno Artur Silva
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quarta-feira, 21 de março de 2007

PRIMEIRO ASSUNTO SÉRIO

Guardo-o, há muito, aqui na minha barra de favoritos. Escrito por Osvaldo M. Silvestre, foi publicado no defundo "casmurro", blog cujo passamento deveria ter tido obituário no jornal e exéquias públicas. A sua alma está ainda visitável e em bom estado, em blogcasmurro.blogspot.com.
É assim:

" 1. Se há coisa que me deixa ainda mais perplexo do que o «cinema português», essa coisa é o «teatro português». Devo dizer que, assim como não consigo encontrar argumentos que não os do paroquialismo ou do nacionalismo cultural para justificar a leitura e estudo de certos escritores nascidos em Portugal, e tantas vezes apodados de «fundamentais» ou «imperdíveis» pelo jornalismo cultural, pela crítica literária e mesmo pela escola, também nunca consegui comover-me com filmes que fazem do serem realizados por portugueses o seu verdadeiro e único cartão de visita. Há seguramente filmes de Manoel de Oliveira que acrescentam ao cinema universal (Acto da Primavera, por exemplo); e há João César Monteiro; e um ou outro filme de um ou outro realizador (por exemplo, Uma Abelha na Chuva, de Fernando Lopes; Onde jaz o teu sorriso, de Pedro Costa; ou Noite Escura, de João Canijo). No todo, porém, a desproporção entre a real valia do inevitavelmente chamado «cinema português» - em grande medida uma invenção curricular de cursos de cinema, da política de preservação patrimonial da Cinemateca Portuguesa e de uma política cultural centrada na exploração de uma imagem identitária, fortemente reificada, para consumo externo – e o barulho e comoção públicos por ele suscitados, consegue ultrapassar a desproporção entre a magnitude dos novos estádios de futebol do Euro 2004 e a miséria de público que eles melancolicamente albergam a cada duas semanas (e não estou, com este exemplo, a deslocar a questão do cinema português para o plano em que ela imprópria e viciadamente acaba sempre por se colocar – a do público -, deslocação que acaba por produzir, e supostamente legitimar, aberrações como o recente Crime do Padre Amaro).Quando passamos para o campo do teatro, as coisas parecem tornar-se ainda mais marcianas. Gustavo Rubim, que manifestamente, e um tanto surpreendentemente, para mim, considera o «teatro português» uma coisa muito estimulante, chamou aqui, há tempos, a atenção para uma das manifestações da enfática auto-representação de que se nutrem os intervenientes na nossa cena teatral. Resumindo, numa versão que no entender de Rubim provém da doxografia brechtiana instalada após Abril de 74 (mas que creio remontar já às leituras que sempre se fizeram da intervenção de Garrett na questão do «teatro nacional»), para grande parte da gente do meio o teatro é arte nobre porque republicana, republicana porque democrática, democrática porque cívica, cívica porque didáctica. O teatro é a democracia e a república, já que nele a ágora se representa, num modelo de 1 para 1, em palco. Logo, se o teatro é entre nós débil, é a democracia quem mais sofre com isso pois não há democracia sem a interiorização, pelos cidadãos, dos mecanismos da performatividade teatral que são a própria democracia. O teatro educa e forma cidadãos esclarecidos, i.e., intelectuais aptos a desmontar as ilusões de baixo coturno que a democracia tenta tantas vezes contrabandear. E que melhor didáctica para isto, podemos nós perguntar após o desdobramento dos silogismos felizes de que se faz este entendimento dominante do teatro entre nós, que a da distanciação brechtiana, a qual, aduz com pertinência Rubim, é hoje a banalidade de base das teorias da representação antimiméticas? Mas haverá outras?, é caso para perguntar face ao triunfo esmagador do efeito de estranhamento na arte e cultura de massas (é só ver com atenção os vídeo-clips pop-rock), nos mass media (haverá jornalistas, e jornalismo, não-brechtiano, hoje em dia?), na propaganda política, etc.Ciclicamente, e sobretudo em momentos de crise e comoção, somos revisitados por estas concepções simultaneamente didácticas, políticas e, não há como não o dizer, algo deslocadas e megalómanas, do papel social e político do teatro. É decerto inútil recordar, neste contexto, que uma arte não se confunde com uma antropologia, por isso que (i) a arte não é nunca a vida, mesmo quando se esforça por imitá-la (princípio, ou banalidade, que vale tanto para antropologias como para sociologias); e que (ii) numa arte se podem exprimir antropologias as mais diversas e mesmo contraditórias, realistas ou fantasistas, didácticas ou lúdicas, cívicas ou anticívicas, etc.Mas é sobretudo difícil não adivinhar nesta auto-representação do teatro como magia sócio-política uma das várias estratégias de compensação daquilo que é a menoridade histórica desta arte entre nós. Por outras palavras, o problema residiria não tanto nem exactamente na debilidade da nossa tradição teatral mas na de uma sociedade que, ao desprezá-la, tem o que merece: não a tradição débil antes referida (nenhum membro da comunidade teatral o admitiria sem ressalva, sob pena de se auto-refutar nesse passo) mas a sociedade amputada (do teatro e, por extensão, da sua «educação para a democracia») que supostamente é, em perspectiva histórica, a nossa.Esta estratégia compensa de muita coisa, e na aparência resolve mesmo todos os problemas do nosso teatro. Comecemos pelo fim. Desde logo, fica resolvida a questão da menoridade e, o que seria inevitável mas talvez não, a das origens várias dela. Se o teatro é uma paideia, então é um crime político-educativo amputar uma sociedade dessa paideia. É estrita obrigação da sociedade resolver um problema sem cuja resolução não haverá plenamente sociedade mas apenas um arremedo dela. O problema, antes de ser cultural, ou mesmo artístico, é pois sócio-político, pelo que cabe estritamente a quem governa zelar por esta versão melhorada da coisa pública; a não ser que se prefira, por deliberado obscurantismo, uma versão não-melhorada da coisa pública (limito-me a reproduzir aqui um tropo recorrente no discurso reivindicativo do nosso teatro: o do premeditado obscurantismo dos poderes). Não espanta que daqui decorra, sobretudo nos sectores mais crítica e politicamente empenhados, uma relação com o Estado que, no que concerne à reivindicação de apoios à criação, nunca descola verdadeiramente de uma posição de «direito natural», publicamente traduzida numa «retórica da arrogância» que as instâncias de mediação do campo cultural – críticos, jornalistas, etc. – em rigor nunca questionam. E nunca questionam porque, como é tão evidente, aceitam sem ressalva o fundamento político-cultural, ou didáctico-cívico, dessa retórica, fundamento sem o qual a sua actividade nem parece ser pensável.2. Sendo essa posição seguramente debatível, como por definição todo o direito natural, o meu ponto é contudo outro: esta perspectiva «educativa» do teatro, que é uma injunção feita ao Estado sem possibilidade de recurso para segunda instância, é provavelmente a melhor estratégia, senão mesmo a única, para minimizar o problema da menoridade histórica do nosso teatro. Digamos que ela subalterniza decisivamente a História, e os seus conteúdos ensináveis em disciplinas de «História do Teatro Português», em favor da performatividade, que é como quem diz, em favor do presente. Trata-se de fazer teatro, de fazer teatro em Portugal (o que é e, obviamente, não é igual a «fazer teatro português») mas, mais relevante, trata-se de «fazer a nação», por meio da única arte que em rigor permite fazê-la, já que o teatro é o performativo em acto e em exemplo: ele é a história do presente desenrolando-se à nossa frente. O problema, que o nosso meio teatral parece achar um pequeno problema, ou um problema pragmaticamente dispensável, é que do mesmo passo a questão do teatro, por mais estratégias brechtianas que se activem, torna-se uma questão estritamente política e, ironia das ironias, obrigadamente representacional: o teatro representaria a vontade (como diria Renan) que a nação tem de o ser na medida em que a nação, como o teatro, se reinventa e faz todos os dias. Para o meio teatral português, a nação teria adoptado o ponto de vista da cegueira, renunciando à sua mais fiel representação, o teatro – ou submetendo-o a uma lógica de sobrevivência na penúria, que iria dar no mesmo.O ponto aberrante desta argumentação, contudo, reside no facto de que o nosso teatro só pode produzir uma representação fidedigna da nação na medida em que opte inteiramente pelo performativo em detrimento do pedagógico que ela também constitui (sigo aqui, como se terá percebido, a discriminação de Homi Bhabha entre pedagógico e performativo na temporalidade disjuntiva da nação). O nosso teatro, digamos assim, tem historicamente pouco a ensinar, razão pela qual não pode deixar de subalternizar o pedagógico em favor do performativo. E tem pouco a ensinar porque se é verdade que tem muita história, não é menos verdade que muito pouca dessa história é transformável em «objecto pedagógico».Convirá esclarecer que não confundo teatro com texto dramático, como é óbvio. Mas também não aceito a desonestidade teórica e intelectual implícita numa discriminação rígida e absoluta entre teatro e literatura dramática, a qual é entre nós mais uma das estratégias de ressalva de um património demasiado pobre para novas descobertas das Américas, mesmo que em virtude de novos métodos centrados ou na semiótica teatral ou na panaceia universal da performatividade. A pobreza patrimonial do teatro português é antes de mais a pobreza da nossa literatura dramática, e quanto a isso não há volta a dar à questão. O próprio Gil Vicente não dá para tudo, desde logo porque um primitivo não permite as reapropriações e modernizações de um Shakespeare (e não deixa de ser significativo que a mais poderosa modernização de Gil Vicente no período contemporâneo tenha consistido na sua releitura a partir de… Brecht). E o que vem depois, com as excepções conhecidas, não faz da nossa literatura dramática uma arte menos descontínua do que, por exemplo, a música erudita, pese embora a «Escola de Évora» ou outros segmentos mais ou menos exumáveis.Dizia-me há dias um colega, a propósito das reformas que se têm verificado nos cursos de Línguas e Literaturas Modernas e que têm vitimado a carga curricular de Literatura Portuguesa, que bem vistas as coisas não se percebia por que razão, senão pela do velho e relho nacionalismo, essa diminuição é tão ressentida pelos professores da disciplina. Afinal de contas, a literatura portuguesa é, como disse memoravelmente Antonio Candido no «Prefácio» à sua Formação da Literatura Brasileira, um «arbusto de segunda ordem no jardim das Musas». Entende-se que nos esforcemos por confrontar os alunos com os textos de Fernão Lopes, Gil Vicente, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro, Camões, o Padre Vieira, algum Garrett, Camilo, Eça, Cesário Verde, Camilo Pessanha, Pessoa. Fora disto, não se vê o que seja perda absoluta e irredimível. Por que razão, aliás, nos doemos tanto por não se estudar António Ferreira, D. Francisco Manuel de Melo, Herculano, Antero ou Nobre e nada nos custa que os nossos alunos não leiam Homero ou Virgílio, Petrarca ou Dante, Cervantes, Milton ou Blake, Strindberg, Dostoievski ou Beckett, e mesmo João Cabral de Melo Neto ou Guimarães Rosa (este último substituído nos manuais escolares por essa sua derivação pós-colonial que é Mia Couto)?No caso da nossa literatura dramática, dizia-me ainda esse colega, é evidente que se perde se não se ler Ibsen – mas, com franqueza, até se ganha se não se ler Bernardo Santareno. Dito isto, a situação portuguesa não é a mesma na literatura dramática que na restante, a qual tem Camões, Pessoa ou Vieira. Mas, esclareço, não se trata apenas de confrontar versões mais ou menos robustas do cânone. De facto, as consequências desta situação de pobreza textual são duplamente gravosas no caso do teatro, quero dizer, da sua situação sociológica e do seu desejado alcance sócio-político. Em primeiro lugar, e pese embora algumas das estratégias de compensação antes referidas, é empiricamente observável que os países em que existe uma forte tradição teatral são aqueles que possuem uma também forte tradição de literatura dramática, pelo que todas essas estratégias conhecem óbvios limites. Por exemplo, na habituação inter-geracional ao acto de «ir ao teatro» ver novas encenações de clássicos, os quais, até por mobilização do aparelho escolar, começam sempre por ser «os nossos clássicos». Ou seja, a inexistência de uma literatura dramática rica, que além do mais os cidadãos-leitores se habituem a ler e reler, antes e depois de a ver dramatizada em palco (e, contra as evidências da doxa, relembremos que o «teatro», enquanto texto, também é para ler: Shakespeare sempre foi um dos autores mais lidos da literatura ocidental), inibe, no caso português, uma sociologia do espectáculo homóloga à daqueles países em que a situação da literatura dramática é outra. Pretender que esta situação se altere drasticamente por injecção de capitais, públicos na sua fatal maioria, é talvez um desejo inevitável mas é seguramente pouco razoável pensar que ela alguma vez se possa vir a alterar significativamente, sendo a nossa produção dramática, a antiga e a contemporânea, o que é.Em segundo lugar, a debilidade patrimonial da nossa literatura dramática afecta decisivamente o potencial representacional do nosso teatro. Como vimos antes, trata-se, por esta razão, de um teatro com poucos objectos pedagógicos, e daí a sua decidida deslocação para o terreno do performativo político da nação. Mas esta deslocação inscreve uma decisiva aporia no corpo político do nosso teatro: a que resulta de ele renunciar, de facto, a representar a fundura histórica de uma nação com demasiada história ensinável, ao invés do que simetricamente ocorre com o nosso teatro (Gil Vicente, mais uma vez, não dá para tudo; duas peças do Judeu e outras duas de Garrett não são o bastante para mudar significativamente o panorama). Digamos que o primado do performativo no teatro português, que lhe assigna o imperativo de representar a história do presente, é um imperativo representacional por defeito. O nosso teatro deter-se-ia assim no presente (na pedagogia do presente) porque nada tem de comparável a oferecer no passado; e o performativo seria assim a sua verdadeira pedagogia. Sobretudo, nada tem de comparável à arte à qual a escola sempre cometeu a tarefa de acompanhar a pedagogia da nação: a literatura, e o seu emblema para todos estes efeitos, Os Lusíadas (ou, modernamente, as Viagens na minha terra)."
Este blog não é aconselhável a pessoas sensíveis, azeitonas, voyers, kiwis, vereadores e presidentes de câmara, maravilhas do mundo e centros culturais modernos, como o de Vila Flor. Também não nos responsabilizamos pelas consequências que possam advir da sua leitura, à direcção da Artmerede, da Setepés, do Teatro da Guarda e do restaurante onde almoçamos (Cozido à Portuguesa às terças e Pato no Forno, às quartas). Também não aconselhamos o seu visionamento (e ainda menos a sua leitura) ao IVA a 21%, aos espectáculos vendidos à bilheteira, ao POCAL e à Ministra da Cultura (aos Secretários de Estado aconselhamos, apenas, uma leitura resumida: as últimas três de cada post). O visionamento público deste blog também não é aconselhável a formadores e conferencistas e às senhoras (umas queridas…) que nos oferecem, depois das refeições, as simpáticas folhas de presença.
O visionamento também deverá ser condicionado em jardim de infância e prisões de alta segurança (excepto de um de nós lá estiver).


Vem-vindos, programadores pecadores!