sexta-feira, 23 de março de 2007

OS NOSSOS TEATROS

Cine-Teatro S. Pedro (Alcanena)
Era assim....

Edifício original
Arq. José de Lima Franco e arq. Raul Tojal

Cronologia
1947, 1 de Agosto - início das obras do cine-teatro, custeadas pela "Sociedade de Melhoramentos de Alcanena", sociedade por acções formada por 70 sócios, liderada por António Mota, industrial de curtumes; 1954 - conclusão das obras do teatro; 1954, 20 de Novembro - inauguração do cine-teatro pela Companhia do Teatro Nacional D. Maria (Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro), com a representação da peça "Prémio Nobel", de Fernando Santos e Leitão de Barros, com a actuação de Palmira Bastos; no dia seguinte representaram-se as peças "As árvores morrem de pé", de Alejandro Casona, e "A Ceia dos Cardeais" de Júlio Dantas; 1969, 1 de Outubro - o cine-teatro passou a ser explorado pela firma "Filmes Lusomundo, de Lisboa; 1970, década de - início da decadência do teatro, motivada por custos de exploração elevados; 1986 - cessa actividade, sendo encerrado; 1995 - António Mota, o maior accionista, doou à autarquia as suas acções na sociedade; 1996 - queda do tecto da sala; elaboração de um projecto de reconstrução pela firma "Arquibúzios - Arquitectura e Paisagismo";

Tipologia
Arquitectura civil cultural, modernista. Cine-teatro de planta composta, de desenvolvimento longitudinal, com cobertura em telhado. Articulação ritmada da superfície das fachadas, sublinhando o jogo da luz e sombra. Funcionalismo do espaço interno, transparecendo no tratamento das fachadas. Dentro dos edifícios construídos para cine-teatro, insere-se no grupo de auditórios de planta rectangular, de cena contraposta, com auditório comportando plateia e um balcão, além dos camarotes laterais para as autoridades (4). Tem fosso de orquestra e proscénio. Dispõe de palco com pendente, subpalco e camarins localizados atrás do palco, em corpo especialmente concebido para o efeito. Cabina de projecção em espaço independente, localizada no piso acima do balcão. Trata-se assim de um auditório tipo A1 (salas de espectáculos) de 2ª categoria (entre 500 a 1000 lugares), com palco de tipo B2 (espaços cénicos integrados), com espaços de apoio dos tipos C1 (locais de projecção e comando), C2 (locais de apoio) e C3 (locais técnicos e de armazenagem)


Características Particulares
O edifício do cine-teatro, de volumetria e linhas modernistas, contrasta com o fronteiro edifício dos Paços do Concelho, de gosto ecléctico, de cunho nacionalista, construído pelo mesmo arquitecto, José de Lima Franco, e inaugurado em 1946. Apesar do estado de degradação do edifício, são ainda visíveis certos pormenores que revelam a existência de um cuidado projecto de decoração de interiores, a cargo de Raul Tojal, nomeadamente no acabamento do pavimento do átrio e dos paramentos do foyers e do auditório, no desenho dos bares e das cadeiras e nos revestimentos das varandas do balcão.*

Descrição
Planta composta por rectângulos adossados, dispostos longitudinalmente. Cobertura em telhado, parcialmente destruída. Fachada principal, virada a NO., de quatro panos. Destacam-se os três panos do lado direito, subindo em três pisos; o piso superior, rematado por cornija, é recuado e antecedido por varanda com guarda em ferro, resguardada na secção central por pala em betão apoiada em quatro pilares; os dois pisos inferiores, ligeiramente avançados e enquadrados por molduras em cantaria, mostram uma organização simétrica: o pano central, de maiores dimensões, correspondente ao vestíbulo e foyer do balcão, os dois panos laterais, à caixa da escada, do lado direito, à zona do foyer da plateia e ao espaço do bar do balcão, do lado esquerdo; rasgamento axial das portas de acesso ao átrio, ao fundo de um nártex, apoiado em dois pilares centrais e antecedido por pala saliente e escada; rasgamento lateral dos vãos das bilheteiras nos paramentos laterais do nártex, arredondados e sublinhados por juntas fendidas; no registo superior abrem-se três amplas janelas com bandeiras; os dois panos laterais são simetricamente vazados por dupla fenestração longitudinal, sublinhada por faixas em cantaria. O pano do lado esquerdo da fachada, de dois pisos, corresponde às zonas de serviços e é rasgado por pequenas janelas. Na fachada lateral, virada a SO., demarcam-se três corpos de volumetrias desiguais: o primeiro correspondente à caixa da escada, enquadrado por faixas em cantaria e rematado por varanda, rasgado pela porta de acesso e resguardada por pala; o segundo corpo, correspondendo ao auditório, mostra um paramento liso rematado por cornija, assinalado pelo rasgamento longitudinal de iluminação das zonas de acesso à plateia e ao balcão, e pelas três portas de acesso à plateia, com frestas sobrepostas; e o terceiro corpo, mais elevado, e também rematado por cornija, vazado por porta de acesso ao palco. INTERIOR - Os espaços de estar para o público, bem como os espaços de apoio concentram-se na zona que antecede o auditório. Um átrio de entrada ( 7 m x 1, 50 m), de pavimento em marmorite com moldura central oval, onde se inscreve em cores contrastantes a designação e o nome da empresa proprietária, assegura o acesso ao foyer térreo (7 m x 3, 50 m) e aos corredores que circudam a plateia. É igualmente neste piso que se localizam a bilheteira, com atendimento para o exterior (capacidade para 2 funcionários), o bengaleiro (capacidade para atender 3 pessoas) e um bar. As escadas de acesso aos pisos superiores, localizam-se no canto direito. Sobre o átrio, no 1º piso, abre-se o amplo foyer do balcão (9 m x 6 m), dividido por sala e espaço de bar: de realçar, em ambos os foyers, o revestimento cor de antracite dos lambris, sublinhados por filetes paralelos dourados, bem como os balcões de bar, com revestimento em folha metálica, respectivamente, prateada e dourada. A área dos foyers no segundo piso é aproveitada para terraço e instalação da cabina de projecção. Espaço do AUDITÓRIO - espaço independente, ligado ao palco pela boca de cena, de planta rectangular e contando com uma lotação de 588 lugares distribuídos por plateia (460), balcão de 1ª ordem (54) e 4 camarotes laterais de 1ª ordem (16) (*). Plateia com pendente, de coxias longitudinais central e laterais, e transversais de boca e de fundo, desprovida de cadeiras (**); pavimento em madeira, paredes estucadas e pintadas de cor branca acima de lambril sublinhado por faixa pintada de cor antracite sobre a qual se increvem filetes dourados dispostos paralelamente; tecto com trabalho de estuque crespado (visível nas zonas que não ruiram). O balcão, por cima da plateia, apresenta guarda em alvenaria, rebocada e pintada de cor branca, coxias longitudinais central e laterais e transversais de boca. Espaços cénicos - o PALCO com largura de 14 m e profundidade de 7, 50 m, tem pendente, paredes brancas, soalho de madeira disposto paralelamente à boca de cena e acesso de carga directo à rua. A boca de cena, de forma rectangular (8 m x 7, 50 m) e em estuque, é desenhada por moldura, sublinhada por friso de conteados, apresentando ainda vestígios de dourado. Dois paramentos laterais arredondados enquadram a boca de cena e o proscénio à frente do qual se abre o fosso de orquestra (13 m de largura). Espaços técnicos - a caixa de palco tem teia de piso e estrutura em madeira (a cerca de 14 m do palco) e varandas lateraisl e outra de fundo, em betão. Conta com subpalco, igualmente de estrutura em madeira. A cabina de projecção possui um espaço independente e está localizada no 2º piso, por cima do balcão de 1ª ordem. Espaços de apoio à cena - 5 camarins, localizados atrás do palco, em corpo de planta rectangular, dividido em compartimentos de áreas idênticas. Acesso directo à rua e, pelo interior, ao palco, este último feito por duas portas, uma em cada topo.


* Raul Tojal é sobretudo conhecido por algumas obras marcantes em Lisboa, nomeadamente os projectos de arquitectura para o Palladium, de 1932, para o Salão de Chá Imperium, de 1936 e para o salão de chá Suiça, todos em Lisboa. Nos anos 60, em colaboração com Manuel Moreira e Carlos Roxo (grupo que ficou conhecido pela designação de "Trio Maravilhas"), decorou numerosos espaços comerciais, nomeadamente a Loja das Meias em Lisboa, em 1961 (Rui Afonso SANTOS, 1995).

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